Protestos contra Dilma geram renda á desempregados


A prática policial adotada para prevenir confrontos nas manifestações de junho de 2013 vai ser retomada nos protestos previstos para esta sexta-feira (13/3) e no domingo (15/3). A Polícia Militar avisou que vai revistar bolsas de manifestantes, na capital federal. Conforme orientações da corporação, não serão permitidos garrafas ou objetos de vidro, fogos de artifício, suportes de qualquer tipo de material para bandeiras. E máscaras serão recolhidas.

Nesta sexta, só serão executadas alterações no fluxo normal das vias caso haja necessidade. Para o domingo, a corporação prevê mais mudanças no trânsito. Além do tradicional fechamento do Eixo Monumental Norte e Sul, as vias S1 e N1 — na altura da Rodoviária do Plano Piloto até depois do Palácio do Planalto, na L4 Sul. — serão fechadas, a partir das 6 horas da manhã. Os veículos poderão utilizar as vias N2 e S2 — atrás dos Ministérios.

O governo federal montou esquema de prontidão neste fim de semana, a começar por hoje, para evitar que as manifestações políticas marcadas para esta sexta-feira e para o domingo terminem em violência. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizam hoje uma marcha em apoio à presidente Dilma Rousseff. No domingo, a oposição promete lotar as ruas para protestar contra o PT.

Dilma ordenou aos ministros do conselho político — Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça), Pepe Vargas (Secretaria de Relações Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Ricardo Berzoini (Comunicações) — que permaneçam em Brasília no fim de semana, caso haja necessidade de uma reunião de emergência. Ela cancelou a viagem que faria hoje a Belo Horizonte e deve se reunir com os conselheiros. Dilma não quer repetir a situação do último domingo, quando foi pega de surpresa pelo panelaço durante o pronunciamento em cadeia de rádio e televisão.

Eles prometem ocupar as ruas para protestar contra reajustes de impostos, crise econômica, alta do dólar, casos de corrupção, para fazer com que a presidente Dilma Rousseff saia do cargo e até mesmo para pedir intervenção militar no país que saiu do regime ditatorial há 30 anos. Mais de um milhão de pessoas já confirmaram presença nos protestos do próximo domingo em todo o País. No Distrito Federal, a promessa é de que mais de 200 mil estejam na Esplanada dos Ministérios – um dos maiores símbolos da governabilidade do Brasil e palco das manifestações de junho de 2013. 

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de que seja um dia típico como os últimos: céu de parcialmente nublado a encoberto, com o sol aparecendo em alguns momentos, mas com fortes pancadas de chuva e trovoadas à tarde e à noite. “As pessoas estão muito empolgadas com o movimento. Acho que a chuva não vai conseguir afastar muita gente”, minimiza a estudante Larissa Nogueira. 

Aos 20 anos, ela é mentora de um grupo de Águas Claras que irá junto ao protesto. “Montei o grupo para incentivar as pessoas que estavam com medo de protestar. Acho que é necessário se manifestar, sim. Não concordo com muito do que acontece: escândalos, juros, corrupção”, afirma. 

Em rede

No grupo, mais de 30 pessoas estão incluídas, mas funciona como uma rede. “Cada um vai levar mais gente”, explica, esclarecendo que mais de 50 já estão em contato, como a zootecnista Carla Siqueira, 39 anos. 

Parte deles vai de ônibus, outra de metrô. No entanto, será necessário atenção. De acordo com o GDF, haverá esquema especial de trânsito, com a interdição das seis faixas do Eixo Monumental entre o Congresso Nacional e a Rodoviária do Plano Piloto. 

O metrô, por outro lado, não vai operar em horário diferenciado e fechará os portões às 19h, como de praxe aos domingos. Os ônibus vão circular em escala normal, mas o DFTrans informou que a operação será monitorada para, “se houver demanda, acionar as empresas a fim de disponibilizar mais ônibus”.

De Uberlândia (MG) a Brasília são pouco mais de 400 quilômetros, e de lá saiu o casal Rafaela Fernandes e Felipe Galli, de 19 e 28 anos. Vieram passar uma temporada e devem participar do protesto na capital do País.

“Estamos infelizes com o governo da Dilma. A insatisfação é geral. Todos estão infelizes com tudo, como as novas regras do seguro desemprego, aposentadoria, impostos, preço da gasolina”, explica a estudante. “Vale a pena fazer esse tipo de mobilização. No domingo, todo mundo, até quem trabalha, pode ir”, avalia o DJ.

O desagrado fez Guthemberg Araújo, 30, até ganhar dinheiro. “Depois do aumento de impostos fiquei incomodado. Para demonstrar minha insatisfação, busquei na internet um adesivo contra o governo para colocar no carro, mas não encontrei. Resolvi, então, fazer eu mesmo”, conta. Ele diz que deixou o emprego com uma promessa de outro que, em virtude da situação econômica do País, nunca saiu.

O desempregado e revela que, no início, fez a arte de camisetas e adesivos para pessoas próximas, mas as 25 unidades foram poucas, tamanha procura. Em uma semana, mais de 120 itens foram vendidos.

Apoiado por alguns, criticados por outros

Para a professora Larissa Cardoso, 22 anos, “a mobilização é importante para o País, que é democrático e tem de permitir que a população demonstre seu descontentamento, mas não concordo com o motivo do protesto”. Para ela, o panelaço (protesto ocorrido no último fim de semana, que mobilizou pessoas batendo panelas nas janelas), teria sido mais um indício de que a insatisfação ocorre, principalmente, nas camadas mais altas da sociedade. “Só bairros com alto poder aquisitivo participaram de fato” ressaltou. 

Ela revelou que votou na atual presidente. “Não por ser petista, mas pelas circunstâncias. Entre os dois candidatos nem tinha como haver discussão”, afirmou. 

Apesar disso, reconhece que não há governo perfeito. “Temos muitos problemas, mas nem tudo é ruim. O acesso à universidade, por exemplo, está muito mais democrático. Talvez os mais ricos estejam descontentes com isso”, afirma. 

Divergência em família

Apesar de serem todos da mesma família, as opiniões se dividem e, como em quase toda reunião, política vira discussão. Não foi diferente com o grupo que, ontem, visitou o Congresso Nacional. “Acabou de ter eleições. Eu não iria a uma manifestação pedindo o cargo de alguém que acabou de assumir”, diz a professora Ane Caroline, 28.

Seu esposo, o servidor público Daniel Monteiro, 32, concorda: “Tem que demonstrar a insatisfação, sim, mas a resposta tem de vir das urnas. Os protestos contra a corrupção são válidos, mas os políticos tem que ser derrubados com as eleições”.

“As eleições foram um dia desses. Será que ninguém percebeu que o País estava nessa situação?”, questionou a dona de casa Clotilde Rodrigues, 54, que foi emendada pelo aposentado João Francisco, 65: “Foi falado, mas ninguém ouviu ou quis ouvir”. Em seguida, o aposentado Manoel Rodrigues, 74, frisou que não concorda com a governante: “Só faz besteira”.
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