O panorama da base de Dilma no congresso

Enquanto o governo se preocupava mais em conter o PMDB, os demais partidos da base aliada iam se afastando dia a dia do Planalto. Atualmente, das 11 legendas que, teoricamente, integram a ala governista, apenas duas se mantêm firmes ao lado de Dilma Rousseff para o que der e vier: o PT e o PCdoB. Os demais, se o Planalto piscar os olhos, arriscam seguir outros caminhos e, hoje, respondem muito mais a um comando do PMDB do que das autoridades palacianas e seus representantes. O número pode chegar a três caso o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, consiga manter alguma ascendência sobre uma ampla maioria de votos da sua bancada, o que ainda não está assegurado.

O motivo do afastamento dessas siglas não foram nem as dificuldades na economia ou a Operação Lava-Jato, na qual líderes aliados também se encontram sob investigação. O que levou muitos a manterem uma certa distância do Planalto foi a artimanha que aliados acreditam ter sido montada dentro do palácio para “reformar a base” à revelia deles. Essa armação consiste em criar o PL, fundi-lo com o PSD de Gilberto Kassab e, ao mesmo tempo, fortalecer o Pros, no qual estão hoje os irmãos Cid e Ciro Gomes. Nos últimos meses, por mais que o Planalto dissesse que não pretendia seguir por esse rumo, os partidos não compravam o discurso.

O que deixou os velhos apoiadores de Dilma certos de que esse plano estava em curso foi o fato de Dilma entregar o Ministério da Educação a Cid Gomes e o das Cidades a Kassab. As duas pastas fazem a ponte com prefeitos e também têm influência direta sobre vários setores da sociedade. Não entregar nenhuma delas aos partidos médios que estão na base há tempos — nem ao poderoso PMDB — foi o que disseminou o germe do distanciamento.

Passada a composição do Ministério, os aliados mais antigos de Dilma Rousseff traçaram seus planos. Ao longo de janeiro, PP e PTB, temendo serem esmagados pelos novos partidos, fecharam apoio a Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na disputa pela presidência da Câmara. O PRB, idem. O PR iria pelo mesmo caminho, não fosse a pressão do palácio recheada de promessas nas últimas horas de janeiro para que fechasse o apoio a Arlindo Chinaglia (PT-SP). O petista já tinha o apoio do PSD, do Pros e do PCdoB. O PDT perdeu o prazo para ingressar nesse grupo porque estava dividido. A base, então, se esfacelou e não se emendou mais.

Influência
Com Eduardo Cunha vitorioso, o governo, pouco a pouco, vai perdendo a influência sobre os partidos da base. Hoje, PMDB, PTB, PP jogam alinhados dentro de um bloco. Contam, invariavelmente, com o PR e o PSC. Em breve, terão o Pros ao lado. Integrantes da bancada contam que a saída de Cid Gomes da Educação tende a afastar o partido de Dilma, porque eles sabem que não terão o direito de indicar o sucessor. E também existe, na legenda, uma disputa interna entre os aliados de Cid Gomes e o comando partidário desde a escolha do novo líder na Câmara, Domingos Neto (Pros-CE). 

Em fevereiro, antes do embate de Cid com Eduardo Cunha, Domingos Neto foi eleito líder derrotando Givaldo Carimbão (AL), um dos fundadores do partido. Carimbão agora se prepara para uma nova investida, no sentido de tirar o jovem Domingos Neto da liderança e alinhar o Pros ao grupo que trafega pela avenida do atual presidente da Câmara.

Quanto ao PSD, Gilberto Kassab tem trabalhado no sentido de manter a legenda mais próxima do Planalto do que do PMDB. Mas não tem mais tantos instrumentos assim para enfraquecer outros aliados do governo ou se sobrepor a eles. Esta semana, por exemplo, seu plano de turbinar o partido vai ruir se a presidente Dilma sancionar o projeto que institui um período de carência para as fusões partidárias: uma sigla só poderá se fundir a outra se ambas tiverem pelo menos cinco anos de existência.

Esse cenário de “uma base aliada, mas nem tanto” e com a Lava-Jato em evidência é o que promete embalar as medidas do ajuste fiscal a partir desta terça-feira. O relator do projeto que trata das questões previdenciárias será o líder do PT, José Guimarães. A relatoria ficaria com o PP, mas o líder do partido, Eduardo da Fonte (PE), avisa que um acordo foi fechado há três semanas para que a proposta ficasse com o PT. “Esses projetos têm muita chance de serem aprovados, porque muita gente tem consciência do que o ajuste fiscal significa para o Brasil. Se não aprovar, o risco para o país é grande”, comenta o parlamentar.

Análise da notícia
Emaranhado de problemas
Diante da pulverização partidária, a presidente Dilma Rousseff teve a chance de deixar um mosaico de partidos mais próximo do Planalto. Preferiu, entretanto, o mais difícil: montar uma engenharia de fortalecimento de novas legendas para, assim, aniquilar não só o PMDB, mas todas aquelas siglas médias que, ao longo da história, se acostumaram ao toma lá dá cá oferecido pelos governos. O plano ruiu e Dilma agora se vê obrigada a voltar à estaca zero para reconquistar a confiança dos peemedebistas e dos demais aliados. E essa volta, na avaliação de muitos, só vai ocorrer se a presidente retomar a velha prática dos cargos ou se desdobrar em salamaleques, do tipo convidar parlamentares para acompanhá-la no Aerodilma, participar de inaugurações e de entrega de projetos, e por aí vai. 

Desde o carnaval, os aliados aguardam a montagem do segundo escalão. O PR espera indicar o futuro comandante do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Os demais partidos aguardam os cargos ligados ao Ministério da Integração etc. No entanto, nada saiu do papel. Demorou tanto que Dilma foi atropelada por um movimento em prol de uma nova reforma ministerial.

Nos bastidores, há quem diga que, se ela não quiser promover mudanças na Esplanada, terá que inserir os partidos no governo via discussão de políticas públicas, com aceitação de propostas dos aliados e cargos de segundo escalão. Caso contrário, corre o risco de, num futuro não muito distante, oferecer as vagas e muitos as recusarem. Haja vista o que ocorre atualmente com o cargo de líder do governo no Senado, para o qual Dilma não encontrou ainda um interessado dentro da bancada do PMDB. Se isso se repetir no segundo escalão, é sinal de que não lhe restará mais nada. (DR) 


QUADRO

Aliança à deriva

Além da problemática relação com o PMDB, saiba como está a aliança dos demais partidos aliados da presidente Dilma Rousseff no Congresso

PP 
Antes de configurar como recordista em número de deputados envolvidos na Operação Lava-Jato, o Partido Progressista já havia feito reuniões com os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante; da Fazenda, Joaquim Levy; do Planejamento, Nelson Barbosa; e de Relações Institucionais, Pepe Vargas, para discutir o ajuste fiscal. Nos encontros sem a presença dos ministros da área econômica, foi discutida a ocupação dos cargos de segundo escalão. A última reunião formal ocorreu duas semanas antes da divulgação da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Pros 
O partido apoiou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidir a Câmara e era considerado um dos mais fiéis aliados do Planalto. Mas essa situação começa a mudar, porque há quem diga que Dilma não prestigiava o Pros, apenas os irmãos Ferreira Gomes. A cúpula partidária sabe que não terá meios de ficar com o Ministério da Educação. Hoje, responde mais ao comando de Eduardo Cunha na Câmara do que ao dos líderes do governo.

PCdoB 
É um dos mais tradicionais aliados e está com a presidente Dilma para o que der e vier. Ocupa o Ministério da Ciência e Tecnologia, tem cargos de segundo escalão no governo e seus principais quadros políticos atuam nos bastidores no sentido de reduzir os efeitos da crise política.

PR 
Hoje, a maioria dos integrantes da bancada é muito mais aliada ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do que ao Palácio do Planalto. 

PTB 
Apesar de a presidente poder contar com o ministro Armando Monteiro Neto (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), a bancada está dividida e não atende ao comando do governo. 

PSD 
O partido do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, continua aliado, mas, hoje, praticamente metade da bancada tem se mostrado arredia ao Executivo federal. 

PDT 
Na Câmara, o partido se mantém fiel ao governo. No Senado, entretanto, a independência é cada vez maior.
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