O ano de 2015 será de desafios para Marina Silva.
A primeira missão é correr atrás de 100 mil assinaturas para registrar a Rede
Sustentabilidade como partido político, atrair parlamentares e retomar as
disputas eleitorais. Depois, a ex-senadora terá de acalmar a base de apoio, já
que parte ficou insatisfeita com a adesão dela à candidatura presidencial de
Aécio Neves (PSDB-MG). Além disso, a ambientalista terá de lidar com o processo
de saída do PSB, que a acolheu quando não conseguiu registrar a própria legenda
em 2013.
O principal objetivo da ex-ministra é conseguir o
registro da Rede Sustentabilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A
militância fez um mutirão de verão e montou postos de recolhimento de
assinaturas durante o carnaval para conseguir as adesões que restam. A
expectativa da legenda é de que sejam recolhidas 100 mil novas rubricas, número
que superaria com sobra as cerca de 50 mil que faltaram para o registro da
sigla em 2013.
De acordo com a assessoria do partido, não é
possível contabilizar a quantidade de assinaturas obtidas porque muitas das
fichas ainda estão nas mãos dos militantes. A Executiva Nacional da Rede
trabalha com a previsão de que o partido seja reconhecido pelo TSE entre o fim
de março e o começo de abril, muito antes de outubro, prazo final para disputar
as eleições municipais de 2016. Entretanto, mesmo com o registro concedido,
ainda caberá a Marina lidar com as dificuldades de uma legenda iniciante e as
consequências das decisões tomadas na campanha eleitoral de 2014.
Um dos principais articuladores da criação da
Rede, o ex-deputado Alfredo Sirkis disse que não pretende sair do PSB, para
onde foi com Marina em 2013. Apesar de afirmar não ter pretensões políticas no
momento, Sirkis acredita ser difícil que partidos novos tenham sucesso no
Brasil com a atual legislação. “A Rede perdeu o timing político quando não
conseguiu se regularizar. Com a nova legislação, em que os parlamentares que
migram não levam ao partido o fundo partidário e o tempo de tevê, fica muito
difícil atuar.” Para ele, será complicado atrair nomes para a Rede. “Para
participar da política de hoje, é preciso estar pelo menos em um partido de
médio porte”, comentou. Membros da Executiva Nacional da sigla confirmam que já
há conversa com parlamentares, mas preferem não adiantar nomes para “não
atrapalhar as negociações”.
Aliados também estão ressentidos com a atuação
durante as eleições presidenciais de 2014. Célio Torino, que era porta-voz da
Rede e membro da Executiva Nacional, fez duras críticas à postura tomada pela
ambientalista durante a campanha. “As propostas dela são iguais às dos outros
partidos, que representam a casta dominante no país. Marina faria, por exemplo,
os mesmos ajustes que Levy está fazendo”, analisa Torino, que pretende
organizar uma nova legenda, cujo nome provisório é Avante, com parte da
dissidência da Rede.
Divórcio
Além de todos os problemas que cercam o destino
político de Marina, ela terá de lidar com a separação do partido que a abrigou.
Os laços com o PSB serão definitivamente rompidos após o registro da Rede. Pelo
menos é o que afirma o presidente do PSB, Carlos Siqueira, para quem, a partir
de então, a relação entre os dois partidos se dará como acontece com qualquer
legenda. “Não temos expectativa de que Marina fique depois da criação da Rede.
Ela tem um projeto próprio, e, apesar da afinidade entre os grupos, nosso apoio
ou não à legenda dependerá das propostas dela e dos nossos interesses”,
declarou.
Marina não deve disputar cargo eletivo nas
eleições municipais de 2016. O foco, novamente, parece ser a Presidência, em
2018. Enquanto isso, ela se manterá ativa nas redes sociais. Para arrumar a
própria casa e superar as dificuldades da criação do partido, ela conta com a
popularidade que tem e lhe rendeu 22 milhões de votos na concorrência do ano
passado.
“A Rede perdeu o timing político quando não
conseguiu se regularizar. Com a nova legislação, em que os parlamentares que
migram não levam ao partido o fundo partidário e o tempo de tevê, fica muito
difícil atuar”
Alfredo Sirkis, articulador da Rede
A caminhada da Rede
2013
» 16 de fevereiro: a Rede Sustentabilidade é
lançada oficialmente, já com Marina Silva como possível candidata à Presidência
nas eleições de 2014.
» 3 de outubro: o colegiado do Tribunal Superior
Eleitoral decide, por 6 votos a 1, não registrar a Rede por não conseguir
validar o número mínimo de 492 mil assinaturas de apoio.
» 5 de outubro: Marina anuncia a filiação ao PSB e
volta à disputa eleitoral.
» 30 de outubro: a presidente Dilma Rousseff
sanciona lei que dificulta o acesso de novos partidos ao fundo partidário e ao
tempo gratuito de rádio e televisão para partidos recém-criados.
2014
» 14 abril: PSB anuncia chapa com Eduardo Campos
como candidato a presidente e Marina como vice.
» 13 de agosto: o então candidato à Presidência
Eduardo Campos morre em acidente aéreo em Santos. Uma semana depois, Marina é
anunciada candidata pelo PSB e aparece como favorita nas pesquisas eleitorais.
» 5 de outubro: Marina fica em terceiro lugar no
primeiro turno da disputa pela Presidência, com 22 milhões de votos.
» 12 de outubro: a ambientalista anuncia apoio à
candidatura de Aécio Neves no segundo turno das eleições. Decisão causa racha
no grupo de apoio, inclusive com a debandada de 32 membros do partido.
2015
Com a derrota de Aécio, Marina tenta o registro da
Rede no TSE. Militância organiza mutirões para recolher 100 mil assinaturas e
conseguir a filiação até outubro, a tempo de o partido disputar as eleições
municipais de 2016.
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