Ameaçado pelo lançamento da candidatura do senador Luiz Henrique (PMDB-SC), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), articulou para antecipar a reunião do partido que decidirá o candidato à presidência da Casa. Anteriormente marcado para amanhã, o encontro dos peemedebistas ocorre hoje e deve oficializar o racha na bancada. Embora aliados de Renan estejam telefonando para parlamentares para sondar sobre o lançamento de um terceiro nome que agrade aos dois grupos da legenda, o plano inicial do presidente do Senado é manter a candidatura à reeleição.
Renan e Luiz Henrique passaram o dia conversando com parlamentares. Enquanto o atual presidente acredita que vai ter o voto da maior parte da base governista, o concorrente conta com o apoio da oposição e de dissidentes da base. Ontem, o PSB retirou a candidatura de Antônio Carlos Valadares (SE), em sinalização de apoio a Luiz Henrique. Em nota, Valadares diz que, ao se lançar, “alcançou os objetivos políticos de tirar o processo de sucessão da Mesa Diretora do Senado do imobilismo em que se encontrava, da falta de transparência e de trazer esse tema para o centro do debate”.
Apesar de Luiz Henrique apresentar a candidatura como “irreversível”, Renan, que se manteve silencioso sobre a reeleição até esta semana, operando apenas nos bastidores, ainda tem esperanças de que o correligionário desista da briga. O alagoano se fia na decisão que a bancada do PMDB tomará hoje. Ele acredita que tem o apoio da maioria dos colegas. A aliados, Renan diz que, como quadro histórico e ex-presidente nacional do partido, Luiz Henrique terá dificuldades para justificar uma desobediência à decisão da bancada.
“O ideal seria que o PMDB — maior bancada da Casa, que tem o direito à indicação do presidente oferecesse dois nomes para que o plenário escolhesse o favorito. Mas, caso o partido resolva lançar apenas Renan, Luiz Henrique será nosso candidato avulso. Acreditamos que a Casa precisa de renovação”, diz o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos articuladores da candidatura de Luiz Henrique. De acordo com ele, um senador o procurou para saber se votaria em um terceiro nome do PMDB, caso o partido abrisse mão de lançar Renan.
Estratégia
Outros parlamentares também relataram ter recebido telefonemas no mesmo sentido. A estratégia é de aliados de Renan, que, preocupados com a possibilidade de derrota, chegaram a aconselhá-lo a lançar um terceiro nome para manter indiretamente o poder político da Casa. Entre os nomes sondados como alternativa, está o do atual líder do partido, Eunício Oliveira (CE), que, ao Correio, negou a possibilidade. Ele, porém, não conta com a simpatia do PT, já que, nos últimos meses, tem mostrado insatisfação com o Palácio do Planalto por causa da distribuição de cargos do segundo escalão.
O Palácio do Planalto monitora as articulações do Congresso. Oficialmente, deve apoiar o nome escolhido pelo PMDB, mas não tem se esforçado para sustentar a candidatura de Renan. Embora ele tenha ajudado o governo em votações, o Planalto teme se ver atrelado a um nome investigado na Operação Lava-Jato. No início de fevereiro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar denúncias e pedidos de investigação contra políticos, e há a possibilidade de Renan estar na lista, já que foi citado por delatores. Além disso, o Planalto está irritado com as cobranças de Renan por cargos no governo.
O ideal seria que o PMDB — maior bancada da Casa, que tem o direito à indicação do presidente — oferecesse dois nomes para que o plenário escolhesse o favorito. Mas, caso o partido resolva lançar apenas Renan, Luiz Henrique será nosso candidato avulso. Acreditamos que a Casa precisa de renovação”
Cristovam Buarque (PDT-DF), senador
19 - Quantidade de senadores do PMDB na legislatura que se inicia na
próxima semana
Encontro com aliados
A dois dias das eleições para a presidência do Senado e da Câmara, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, se reuniu com parlamentares da oposição durante um jantar de confraternização em um restaurante na QI 17 do Lago Sul. O assunto do encontro não foi divulgado à imprensa. As eleições serão no domingo, mesmo dia em que deputados e senadores eleitos no ano passado tomam posse.
O fator "voto secreto" Na briga com Luiz Henrique (PMDB-SC), Renan Calheiros (PMDB-AL) pode ser traído por uma iniciativa dele mesmo. Isso porque, quando o Congresso debatia o fim de votações secretas em 2013, o alagoano se movimentou para manter sigilosa a escolha para a presidência do Senado. Naquela época, a avaliação dele era de que os parlamentares se sentiriam mais confortáveis para votar nele, mesmo sendo alvo de protestos populares, como os ocorridos naquele ano.
O Congresso promulgou a PEC do Voto Secreto em novembro de 2013. Acabou com o sigilo para a cassação de parlamentares, mas o manteve para a eleição de membros da Mesa Diretora da Câmara e do Senado e para indicações de autoridades, como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o procurador-geral da República.
Agora, o sigilo pode favorecer Luiz Henrique, já que, no cálculo dos articuladores de sua campanha, ele receberá votos de dissidentes peemedebistas e petistas, mesmo que os dois partidos orientem o voto em Renan. Na bancada do PMDB, Ricardo Ferraço (ES) e Waldemir Moka (MS) já anunciaram que votarão em Luiz Henrique. A expectativa do peemedebista dissidente é receber o apoio também de pelo menos três petistas. Luiz Henrique chegou a ser indicado ao Palácio do Planalto por integrantes da bancada do PT como um dos nomes para ocupar a liderança de governo do Senado este ano.
O comando da Casa
Saiba como funciona a Mesa Diretora do Senado
» O Senado Federal é dirigido pela Mesa Diretora, composta pelo presidente, primeiro e segundo vice-presidentes e quatro secretários.
» São indicados também quatro suplentes de secretários para substituirem os titulares em caso de impedimento.
» A eleição dos membros da Mesa é feita em sessão preparatória, realizada a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura.
» A votação é secreta, por maioria de votos, presente a maioria dos senadores e assegurada, tanto quanto possível, a participação proporcional das representações partidárias ou dos blocos parlamentares com atuação na Casa.
» A duração do mandato da Mesa Diretora é de dois anos
» Na eleição imediatamente subsequente ao mandato, os membros da Mesa Diretora não podem ser reconduzidos aos mesmos cargos. Atualmente, prevalece o entendimento de que essa proibição não se aplica quando se tratar de uma nova legislatura.
Fonte:s Constituição Federal e Regimento Interno do Senado e Redação