Apesar das mágoas da campanha presidencial, um setor do PSB
tem se movimentado dentro do partido para se reaproximar do governo da
presidente Dilma Rousseff. A ideia, encabeçada principalmente por lideranças
próximas ao Planalto, como o ex-ministro da Integração e senador Fernando
Bezerra (PSB-PE), no entanto, encontra fortes resistências na legenda. O
principal argumento de quem prega a independência é que os dois partidos — PT e
PSB — têm visões diferentes. Oficialmente, o discurso é embasado na resolução
do partido, aprovada em consulta aos diretórios, que prevê o distanciamento.
Bezerra Coelho, entretanto, tem defendido a união de forças
políticas em torno do projeto de desenvolvimento, “sem receios e com firmeza
buscar a reaproximação política com o governo central, para ser o parceiro de
importantes investimentos que precisam ser iniciados, acelerados ou
concluídos”. A declaração do ex-ministro foi encarada por alguns
correligionários como um apelo devido à situação financeira de algumas unidades
da Federação, como Pernambuco e o Distrito Federal, que têm governadores do
PSB. Eles acreditam que o desejo do senador tem o objetivo de tentar blindar essas
localidades de uma crise econômica por falta de interlocução com o Palácio do
Planalto.
Em resposta ao movimento do ex-ministro, o prefeito do
Recife, Geraldo Julio (PSB), afirmou que a posição de independência do partido
está mantida. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, acrescentou ainda que
não vê a necessidade de reaproximação com o Planalto. Segundo ele, o momento é
de manter essa postura de independência, apoiar projetos que são de interesse
do país e “ter a tranquilidade para deixar a presidente governar”.
Integrante da Executiva Nacional do partido, o senador
Antonio Carlos Valadares (SE) alerta que é preciso ter muito cuidado com uma
possível reaproximação. “Tanto o apoio quanto a oposição têm que ser muito
conscientes. Por ora, nós decidimos pela independência. Cada caso deverá ser
analisado separadamente”, argumentou. Ele ressalta que há uma resolução na
sigla que proíbe aos filiados que aceitem cargos no governo federal. “Nós temos
apoiado o governo nas propostas que achamos coerentes. No ano passado, mesmo
depois de termos desfeito a aliança com a presidente, votamos com o governo na
maioria dos casos. Não por exigência de apoio, mas porque achamos que as
propostas eram boas”, explicou.
Tucanos
O senador destacou que a campanha foi muito dura. “Não
podemos nos esquecer que apoiamos o candidato do PSDB, Aécio Neves, e que não
foi uma decisão deliberada. Apoiamos com exigências, adesão a 10 pontos que
consideramos essenciais, como a manutenção dos programas sociais do governo e
de direitos trabalhistas, que a presidente não está mantendo. Migrar para o
governo sem discussão pode ser um tiro no pé, que pode ser confundido como
oportunismo”, emendou.
No início do mês, quando o governador do Distrito Federal,
Rodrigo Rollemberg (PSB), fez os primeiros movimentos no Planalto para tentar o
adiantamento do Fundo Constitucional, havia a avaliação, dentro do Planalto, de
que o governo não seria o primeiro a dar o passo para a reaproximação. O
entendimento era de que o Executivo compreendia a decisão do partido se tornar
independente, mas também não tinha esquecido a história de aliança entre as
duas siglas. “Eduardo Campos foi ministro de Lula, sempre teve uma boa relação
com o partido”, lembrou um assessor palaciano na época.
“Nós temos apoiado o governo nas propostas que achamos
coerentes. No ano passado, mesmo depois de termos desfeito a aliança com a
presidente, votamos com o governo na maioria dos casos. Não por exigência de
apoio, mas porque achamos que as propostas eram boas”
Antonio Carlos Valadares, senador do PSB-SE e integrante da
Executiva Nacional do partido
Memória
Sucessão presidencial
Em setembro de 2013, após várias especulações sobre a
candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, o Partido Socialista
Brasileiro (PSB) resolveu entregar todos os cargos ocupados pela sigla no
governo Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, Campos fez questão de salientar que a
legenda manteria apoio formal à petista no Congresso Nacional. Na época,
socialistas avaliaram que não era o momento político ideal para um rompimento
com o PT, o que só veio ocorrer em 2014, com a confirmação da candidatura ao
Palácio do Planalto do ex-governador de Pernambuco, morto em acidente aéreo em
agosto do ano passado.
Defensor da saída do PSB do governo, o então líder do
partido na Câmara dos Deputados, Beto Albuquerque (RS), que depois tornou-se
vice na chapa encabeçada por Marina Silva, foi escalado para falar sobre o
assunto.
Ele reforçou que os socialistas tomaram a decisão para não
constranger a presidente e que, a partir daquela data, adotariam uma postura
mais independente. “Não seremos oposição ao governo, mas também não estaremos
na base. Vamos votar aquilo que entendermos que é bom para o Brasil”, afirmou,
na época, Albuquerque. Campos também concedeu entrevista e salientou que, com a
atitude tomada, a sigla estaria mais livre para debater o país.