Entrevista com Olair Francisico

Deputado acredita que os 17 partidos que hoje garantem apoio ao governador permanecerão juntos na campanha


O deputado distrital Olair Francisco, do PTdoB, acredita que a base do governo continuará a mesma até o fim do ano. Para ele, nem a avaliação ruim do governador afastará os 17 partidos do projeto de reeleição. “Nas questões relevantes para Brasília, deputado nenhum fica contra. Vejo isso com naturalidade e acho que o governo vai terminar com a mesma base que está hoje, independentemente da eleição. Uma coisa é dentro do plenário, onde há uma responsabilidade com o Distrito Federal, e outra é o processo eleitoral”, afirmou. O projeto pessoal de Olair é chegar ao Senado. Ele acredita que, dentro do Legislativo federal, será possível repetir medidas já iniciadas no Distrito Federal. Mesmo sem muito tempo de televisão, o distrital acredita que outros meios serão decisivos na campanha. “Existem hoje vários instrumentos para chegar na casa do eleitor. Um deles é a rede social. Mas acho que o mais importante para disputar a eleição majoritária não é a questão do tempo de televisão e, sim, as propostas”, completou.

O senhor vai até o fim na sua candidatura ao Senado?

Estamos trabalhando para isso. O PTdoB foi criado em 2006 e em 2010 foi uma das forças políticas do DF. Teve quase 80 mil votos para deputado distrital e assim eu fui eleito. Agora, queremos dar um passo mais para frente, discutir Brasília mais profundamente, trazer mais coisas para o nosso Distrito Federal e ajudar com mais ideias e ações o Brasil. Por isso estamos nos preparando para uma vaga majoritária e discutir o Brasil e Brasília de uma maneira mais aprofundada.

Essa vaga seria na chapa do governador Agnelo ou na oposição?

Comporia uma chapa disposta a discutir Brasília da maneira que a população queira discutir. 

O PTdoB não teria muito tempo de televisão, por ter poucos parlamentares eleitos. Como faria campanha para vaga majoritária?

Mas tem aliados. No Congresso o partido tem aliados. O PTdoB conhece exemplos, no Brasil, de que com pouco espaço de televisão, houve condições de chegar ao topo de política. Já foram eleitos senadores com pouquíssimo tempo de televisão. Esse não é o ponto-chave, mas, sim, o que você quer para Brasília, para o Brasil, como quer discutir isso. 

Caso não se consiga o tempo de televisão suficiente, a campanha pode se basear nas redes sociais? 

Existem hoje vários instrumentos para chegar na casa do eleitor. Um deles é rede social. Mas acho que o mais importante para disputar a eleição majoritária não é a questão do tempo de televisão e, sim, as propostas. O que você quer fazer para o Sol Nascente, para o jovem aprendiz, para o cidadão de acima de 40 anos que está sem trabalho, o que você quer fazer para melhorar a segurança e o problema de moradia de Brasília. Essas questões é que vão ser discutidas e não o tempo de televisão.

Como o senhor avalia esse tempo integrando a base do governo? Foi bom para os dois lados?

Eu tenho que avaliar o meu mandato de deputado distrital. Nós fizemos a Lei da Ficha Limpa para servidores comissionados, um projeto importante para quem tem câncer, que obriga o governo a dar terapia, também um projeto fundamental, o Não Dê Esmola, Dê Cidadania, mostrando para as pessoas que dando o dinheiro, você coloca a pessoa na linha de pobreza. Fiz um projeto a que não pude dar sequência, por conta do vício de iniciativa, mas o governador copiou e é fundamental: vacina contra o HPV, que é caríssima, para meninas de 11 e 12 anos. Nós fizemos projetos, trabalhamos, tivemos um total de 5,4 mil indicações, ou seja, 5,4 mil problemas que nós apontamos ao GDF. Desse total, 3,2 mil já foram aprovadas pela Câmara Legislativa. As outras estão em análise. Portanto, fizemos muita coisa e temos que valorizar o nosso mandato. Pode não ter sido um mandato ótimo, mas nós temos certeza que foi o melhor que poderíamos fazer. Então, de zero a dez, fui um deputado nota 6, não tem problema. Estamos lá com a cabeça erguida.

O senhor falou sobre os moradores de rua, que visivelmente estão ocupando cada vez mais a cidade. Qual seria a origem desse problema?

A falta de oportunidade. Eu comecei minha vida como feirante. O jovem hoje se forma, mas não tem a oportunidade de expressar o que ele está querendo fazer. Hoje você termina a faculdade e não tem certeza que vai estar no mercado de trabalho. Nós temos que gerar riqueza, emprego. Infelizmente, hoje nós não temos empregos suficientes para quem vem para Brasília. E como é que nós vamos fechar as portas do Distrito Federal? Aqui é a capital de todos nós, de todos os brasileiros. Ainda vêm muitas pessoas para o Distrito Federal. Quando chegam aqui, não é aquele sonho que a gente prega, de cidade que resolve tudo. Aí o migrante chega aqui e não tem lugar para ficar, não tem emprego. Aumenta o número de pessoas morando na rua e pedindo.

Como o governo deve enfrentar esse problema? Criar oportunidade é um processo lento, mas o que poderia ser feito no curto prazo?

Eu não vejo como lento. Acho que a gente tem que ter políticas públicas na geração de emprego, renda e riqueza que sejam eficazes. O Pró-DF é um grande projeto, mas não é só dar o lote. O cidadão de uma banca de jornal pode participar do Pró-DF, pode gerar um emprego a mais, mas não tem condições de dar o vale-transporte. Por que a Secretaria do Trabalho não poderia pagar esse vale-transporte? Então, são várias medidas que podem ser tomadas em conjunto.

O senhor avaliou seu mandato, mas e o governo?

O governo Agnelo fez muita coisa, fez demais da conta. Se você pegar a área de funcionalismo público, foi o que mais contratou. Porque entendia que precisa do trabalho dessas pessoas para a máquina funcionar. Ele investiu muito na área de saúde. Reformou, construiu UPAS e etc. Também contratou gente para a área de segurança. Mas não conseguiu fazer chegar a informação na casa do cidadão comum e das pessoas que são beneficiadas por essas medidas. Isso é um problema para as grandes realizações que o governo fez. 

Qual nota o senhor daria?

Eu acho que seu julgasse o governo, estaria sendo injusto. Quem vai julgar o governo vai fazer isso no dia 5 de outubro, nas eleições. O governo Agnelo fez muita coisa e quem vai avaliar é cada um de nós. Se eu avaliasse, não estaria sendo justo.

O senhor atribui essa avaliação baixa, de 9% de aprovação, à comunicação?

Não, não posso dizer que o governo tem 9% de avaliação por conta da comunicação com as pessoas. Se teve 9%, é porque alguma coisa não aconteceu lá não chegou à base. 

O senhor acredita que exista no Buriti uma estratégia de reeleição baseada no W.O.?

Não acredito nisso, porque você tirar o João, mas pode vir o Pedro. Pode tirar o Pedro e vir a Maria. Pode tirar a Maria e vir a Valéria. Então, essa questão de tirar fulano ou beltrano não existe. Só tem um jeito de ganhar a eleição, que é mostrando para o eleitor que seu projeto é melhor. Não adianta. Máquina não ganha, dinheiro também não. 

Quais das candidaturas postas para o Buriti podem vingar?

Todas poderão vingar. O senador Rodrigo Rollemberg é um homem de Brasília, assim como a deputada Eliana Pedrosa. O deputado federal Reguffe é de um partido grande. O Agnelo vem com a força que tem. A gente não pode descartar candidatura. E ainda podem surgir novos nomes. Tanto o ex-governador Roriz que governou a cidade várias vezes tem muitos serviços prestados, como o ex-governador Arruda, podem ser candidatos. São nomes que fizeram muito por Brasília e não pode ser descartados.

Existe um projeto para eleição de administradores regionais e também uma liminar na Justiça que obriga participação popular. É preciso mudar esses sistema?

Uma das coisas mais importantes é que o administrador seja morador da cidade, já é um grande avanço. Mas tem que respeitar também a autonomia das cidades. Se você começar a eleger por voto o administrador, daqui a pouco também vai haver eleição para vereador. Daqui a pouco vão querer que o dinheiro de Sobradinho venha para o Plano Piloto, vai se criar um problema de receita. A gente precisa ter muito cuidado com isso, para não virar município. Se virar município, tem cidade que não dará conta de sobreviver. É preciso ter muita atenção. Acho que o cargo de administrador é um cargo de confiança do governador, que pode colocar e tirar. O cargo de confiança é necessário para o gestor público. Então eu vejo isso com muita tranquilidade. O que nós podemos fazer é encontrar junto com o governador uma pessoa na cidade que queira trabalhar para sua comunidade.

O senhor teve problemas com um administrador indicado. Esse tipo de indicação é positivo?

Eu não vejo problema nenhum em o deputado indicar o secretário, o administrador, o diretor de empresa. Você indica uma pessoa ilibada. O governo precisa das indicações, precisa do apoio de todos. A indicação acontece em várias empresas e, caso a pessoa não corresponda, ela é demitida. É assim que funciona.

Depois da prisão do administrador de Águas Claras, Carlos Sidney de Olivera, o senhor ainda tem problemas com isso? Como está a situação?

Eu não tive problema nenhum por essa indicação. Eu indiquei o primeiro e o segundo administrador. Foram todos trocados. Quem está na administração hoje é uma pessoa indicada pelo governador, que tem tirado pessoas que nós indicamos. Está tudo tranquilo.

Quando poderá ocorrer a saída de partidos da base que pretendam fazer oposição nas eleições?

Nas questões relevantes para Brasília, deputado nenhum fica contra. Vejo isso com muita naturalidade e acho que o governo vai terminar com a mesma base que está hoje, independentemente da eleição. Uma coisa é dentro do plenário, onde há uma responsabilidade com o Distrito Federal, e outra é no processo eleitoral.

O senhor acha que falta diálogo por conta da base grande? Existe pressão do governo para que se aprovem os projetos ou o senhor não sente isso?

Os projetos do governo que tiveram aprovação foram os essenciais. O projeto de aumento para os funcionários públicos precisava passar. Se não votasse naquele momento, depois de negociado, ia ser deixado para o ano que seguinte e seria perdido. Todas as matérias que foram votadas com mais rapidez, que chegaram com regime de urgência, era para dar mais agilidade para o DF. Portanto, isso é normal.

Qual seria sua bandeira como senador?

Eu entendo que a gente tem que encontrar uma maneira de gerar mais trabalho para as pessoas. As pessoas que têm acima de 40 anos estão sem oportunidade no mercado de trabalho. Principalmente as pessoas que não têm uma qualificação. A gente entende que é necessária uma lei que obrigue as empresas a ter 10% dos funcionários com mais de 40 anos, porque essas pessoas estão totalmente fora do mercado.

Diante desse cenário indefinido e do fato de que existe só uma vaga para o Senado em disputa, o senhor não acredita que aproveitaria mais seu potencial em uma reeleição?

Não vejo bem assim. Acho que você vem, presta um serviço e vai buscar uma nova maneira de resolver os problemas que você encontrou. A gente vê que há muitos problemas de falta de oportunidade para as pessoas que a gente precisa fazer uma lei federal. Um exemplo é a questão do HPV, porque milhares de crianças precisam dessa vacina e não têm. Nós conseguimos fazer isso no DF e temos condições de levar isso para todo o País.

Daniel Cardozo
daniel.cardozo@jornaldebrasilia.com.br
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