Deputado não respeita presidente do STF

 O vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), reagiu na tarde desta terça-feira, 04, ao pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar protocolado na Corregedoria da Casa pelo novo líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA). O petista disse não acreditar que o pedido seja acolhido e afirmou que não aceitará "patrulhamento ideológico" do PSDB. "É um patrulhamento inaceitável", desabafou.

Na terça-feira, na cerimônia de abertura do ano legislativo, Vargas se sentou ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, e repetiu o gesto feito pelos condenados do Mensalão durante as prisões de novembro passado. O petista disse que apenas retribuía ao gesto que outros parlamentares faziam para ele naquele momento. "Não fiz para o Joaquim", relatou. Como revelou o jornal O Estado de S.Paulo, durante o evento o petista ainda trocou mensagens pelo celular manifestando a vontade de dar "uma cotovelada" em Barbosa. "Isso foi uma conversa privada", reclamou.

Vargas afirmou que o presidente do STF "agride" jornalistas e a classe política, mas garantiu que seu gesto não foi ofensivo. Segundo o deputado, antes da cerimônia os dois até trocaram cumprimentos de forma "decente".

No ofício encaminhado ao corregedor Átila Lins (PSD-AM), o líder do PSDB relata "suposta prática de infração ética e de prática de eventual ato atentatório ao decoro parlamentar" de Vargas. "Essa atitude, a toda evidência, constitui um desrespeito à autoridade que se encontrava na dependência desta Casa e com a qual o deputado manteve contato no exercício da atividade parlamentar e na condição de Primeiro Vice-Presidente da Câmara dos Deputados", ressalta o ofício.

O petista disse compreender que o PSDB use episódios envolvendo o mensalão como "tática central" de sua estratégia. "Isso aí faz parte da luta política", considerou. Ele reafirmou a disposição de continuar "discordando" do presidente do STF na condução do processo do mensalão por considerar que sua postura é amparada pelo "direito de livre expressão". "Se o STF tiver a mesma postura contra o Eduardo Azeredo (deputado do PSDB que é réu no processo do mensalão mineiro), terei a mesma posição", afirmou.

Crítico do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) pelas condenações de seus colegas de partido no esquema do mensalão, o deputado André Vargas (PT-PR) é alvo de inquérito por suposto crime de caixa dois que pode lhe render, se condenado, até cinco anos de prisão, além de multa.

Vice-presidente da Câmara, Vargas aproveitou a presença do ministro Joaquim Barbosa em solenidade de reabertura dos trabalhos na Casa Legislativa para protestar em favor dos colegas José Genoino (condenado a 6 anos e 11 meses) e José Dirceu (condenado a 10 anos e 10 meses), repetindo o gesto do braço levantado com o punho cerrado que os dois fizeram ao se entregar em novembro.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou, ainda, imagens de uma troca de mensagens entre Vargas e um interlocutor na qual ele expressa desejo de dar uma "cotovelada" no ministro, acomodado ao seu lado durante a cerimônia.

O processo que envolve Vargas foi aberto no STF no final do ano passado para investigar denúncia de que ele teria omitido da sua prestação de contas à Justiça Eleitoral a contratação de cabos eleitorais. "O inquérito é para apurar o artigo 350 do Código Eleitoral, o popular caixa dois", confirmou o advogado de Vargas, Michel Saliba Oliveira. O artigo diz que é proibido "omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais."

Vargas não admite a contratação dos cabos eleitorais. A defesa sustenta que o trabalho foi voluntário, o que não implicaria em remuneração. "Não há contrato de trabalho", afirma seu advogado. A denúncia envolve cerca de 20 pessoas.

Em fevereiro deste ano, o STF autorizou a Polícia Federal a prosseguir nas investigações da denúncia. A assessoria do ministro Teori Zavascki, relator do processo, disse que não comenta o caso, embora não esteja sob sigilo.
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